terça-feira, 26 de março de 2013

Opinião - O Ladrão de Cadáveres de Patrícia Melo

Esta foi uma leitura bastante diferente do habitual. A maioria das minhas leituras é feita em Português europeu e este livro de Patrícia Melo é escrito em Português do Brasil o que dificultou bastante a leitura na medida em que são utilizadas várias expressões e termos que desconheço e que fazem parte do calão utilizado em algumas zonas do Brasil em particular. Contudo, com alguma pesquisa gradual à medida que fui avançando na leitura, essas dificuldades dissiparam-se e foi quando comecei a gostar particularmente do livro e o li de uma ponta à outra quase ininterruptamente.

O Ladrão de Cadáveres mostra-nos a história de um homem que tem a infelicidade de, tal como em tantas outras ocasiões, estar no local errado à hora errada. Este assiste ao despenhamento de um pequeno avião e rapidamente se lança para auxiliar o piloto que está gravemente ferido. Consegue ainda chegar à fala com ele mas os ferimentos acabam mesmo por ser demasiado graves e o piloto não resiste. Após ser a única testemunha deste acontecimento, o nosso protagonista apercebe-se de que pode lucrar com isso e assim se inicia uma aventura que tem tudo para correr bem e ao mesmo tempo, tudo para correr mal. Este início fulgurante dita o restante desenvolvimento do enredo e a autora não perde tempo e contextualiza imediatamente tudo que vai acontecer de seguida. 

O design da capa (muito bem conseguido, como é apanágio da Quetzal) dá a entender à primeira vista  que o livro será bastante violento, o que na verdade não acontece e a violência é pouca ou nenhuma. No entanto, apesar dessa falta de violência, o livro é muito intenso e deixa o leitor em constante sobressalto na expectativa do que irá acontecer com os protagonistas. A condição humana é um tema muito explorado e mostra a forma como somos capazes de fazer tudo para nos livrarmos de um problema e para retirar benefícios de alguma situação. A pessoa que achamos que somos pode em segundos mostrar-se bastante diferente e tudo depende das encruzilhadas em que embarcamos. Este é um livro de sentimentos fortes e também de relações interpessoais. A autora transmite a sensação de que não podemos confiar em qualquer pessoa e as pessoas em quem confiamos podem trair-nos em qualquer instante deixando-nos sozinhos num mundo que nos devora se não estivermos atentos.

Não é um grande livro mas é um livro que me agradou. Lê-se compulsivamente na medida em que os capítulos curtos e agitados tornam difícil a interrupção na leitura. O tema é bastante original assim como as personagens apesar de faltar alguma descrição das características físicas dos protagonistas para que seja mais fácil ao leitor se identificar com elas. Em suma, vale a pena dar uma oportunidade a esta autora e estar atento ao seu trabalho futuro.


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