quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Opinião - A Vida de Pi de Yann Martel


Em primeiro lugar gostava de justificar o longo tempo que demorei a acabar esta leitura. Não porque precise de alguma justificação e porque os livros devam ser lidos mais ou menos rapidamente mas sim porque creio ser um elemento importante desta opinião. A razão principal para esta demora foi o imenso prazer que esta leitura me proporcionou. Este livro é de facto um saborear de palavras que já não sentia há algum tempo. Obrigou-me a voltar atrás várias vezes, a tomar notas, a registar citações, a parar para reflectir. A apreciar o que pode fazer a talentosa e inspirada mente humana.

Não tenho por hábito classificar nenhum livro como obrigatório mas garanto que apenas um reduzido número de leitores iria desgostar deste livro. É de facto uma grande obra. Piscine Molitor Patel é um rapaz de uma família humilde cujo próprio nome começa desde o início por ser uma questão de conflito e humilhação perante os seus pares. Este conflito leva-o a engendrar uma forma de alterar o seu nome de forma a acabar com o tom jocoso como os seus colegas se lhe dirigem. Assim, Piscine Molitor Patel diminui o seu nome para: Pi. Pi, inequívoco símbolo matemático, é o escudo que este encontra para o proteger dos seus colegas. Desde cedo Pi depara-se com as controvérsias da religião e com a dificuldade que é para si escolher uma ou porque não é possível escolher todas. Esta é uma temática recorrente neste livro e muito questionada pelo protagonista à medida que se depara com as diferentes dificuldades da sua jornada. Também a zoologia é um tema muito presente neste livro na medida em que o pai de Pi é administrador e dono de um Zoo. Existe neste livro uma descrição exaustiva e rica das características dos mais variados animais e dos seus comportamentos mediante as mais diversas situações. Parece ter havido também uma pesquisa real relativamente ao que significa gerir um Zoo na medida em que tudo parece tão autêntico embora eu não seja a pessoa certa para o avaliar.

Na segunda parte (a mais emocionante e original) vivemos a sobrevivência de Pi a bordo de um barco salva vidas tendo como única companhia um feroz tigre de Bengala. Nesta parte acompanhamos o sofrimento de um rapaz que desesperado altera todos os seus hábitos de vida com um único objectivo: a sobrevivência. O vegetarianismo é deixado para trás e qualquer fonte de nutrientes passa a ser essencial, quer seja carne, peixe ou mesmo objectos pouco comuns. A própria religião começa por suscitar imensas dúvidas em Pi. A definição do território partilhado com o tigre de Bengala, Richard Parker, é abordada com muita graça por parte do autor mas ao mesmo tempo com um conhecimento técnico notável. Conhecimento técnico esse que está presente nas fabulosas técnicas de sobrevivência utilizadas por Pi durante toda a sua jornada. Não faltam tempestades ou a escassez de alimentos e água. Não faltam elementos que motivam a felicidade de Pi embora possam parecer ao leitor como uma banalidade quotidiana. Uma ilha misteriosa. Elementos assustadores. A própria evolução da sua relação com Richard Parker é um dos elementos mais fascinantes da obra. A paixão que Pi desenvolve por Richard Parker embora a relação se mantenha entre o que esperamos que seja a relação de um ser humano com um animal selvagem.

Na terceira e curta última parte lemos o resgate de Pi. A história contada por ele mesmo. Os detectives. O estudo. As razões. Surgem muitas dúvidas acerca da veracidade da sua história e do que ocorreu na realidade. Os elementos que soam demasiado fantasiosos para aqueles que não os viveram. E no clímax do livro, uma história real, contada por Pi, com intervenientes falsos mas sentimentos reais.
Não poderia ter tido mais prazer nesta leitura. Aconselho sem a mínima reserva.
Genial.

Fica também mais uma sugestão final, ainda relacionada com esta obra. Aconselho, caros leitores, a assistirem também ao filme. É um trabalho de realização espantoso e uma utilização de efeitos especiais, devidamente trabalhados, notável. Fica a minha aposta para que nos Óscares, A Vida de Pi vença pelo menos o Óscar de Melhor Fotografia. Fica o trailer:


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